Bem-estar
24/07/201207h00
Rosana Faria de Freitas
Do UOL, em São Paulo
O reconhecimento do seu lado preponderante pode ser importante em várias situações
Seu pensamento é mais focado ou global? Você se considera uma pessoa
metódica ou livre de regras? Estas são algumas das perguntas-chave para
descobrir se tem uma mente convergente ou divergente – e, a partir daí,
trabalhar suas potencialidades e dificuldades para ter mais sucesso,
bem-estar e qualidade de vida. Tal teoria não é nova e foi difundida, na
segunda metade do século 20 pelo psicólogo americano Joy Paul Guilford.
“Depois dela, surgiram as associações com a lateralidade cerebral, os
lados esquerdo e direito do cérebro que se comunicam constantemente, têm
características próprias e tudo a ver com esse estudo – já que mentes
convergentes tendem a utilizar mais o hemisfério esquerdo e as
divergentes, o direito”, explica Leandro Roberto Teles, neurologista
formado e especializado pela Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (USP).
A teoria não está ancorada em estudos científicos controlados e sim em
investigações observacionais. Antes de se perguntar em qual extremo você
se encaixa, saiba que o fundamento não serve para dividir as pessoas no
grupo x ou y, pois isso seria simplista demais se considerarmos toda a
complexidade e heterogenia do ser humano. “Alguns indivíduos até podem
estar em um polo ou outro, mas a grande maioria se encontrará no meio do
espectro, mostrando traços de pensamentos convergentes e divergentes”,
salienta o médico. De qualquer forma, a doutrina ajuda na compreensão de
tendências, limitações e habilidades individuais.
Pessoas de mente convergente: |
Têm um pensamento mais focado, começando da parte para o todo, sequencial e lógico. |
Chegam a respostas corretas e confiáveis, mas com pouco ineditismo. |
Em geral são perfeccionistas, organizadas e realizam uma tarefa de cada vez. |
O hemisfério esquerdo do cérebro é mais acionado e, por isso, resvalam para o pensamento cartesiano e raciocínio matemático, sempre de forma detalhista e metódica. |
Apesar de competentes, têm dificuldade de perceber o todo em um primeiro momento, são mais intransigentes e não aceitam erros. |
Colocadas fora da rotina, podem se perder um pouco. |
Lógica versus intuição
Curioso para se definir? Então, vamos lá. Uma pessoa de mente
convergente tem um pensamento mais focado, começando da parte para o
todo, sequencial e lógico. Chega a respostas corretas e confiáveis, mas
com pouco ineditismo. Em geral são perfeccionistas, organizadas,
realizando uma tarefa de cada vez. O hemisfério esquerdo do cérebro é
mais acionado e, por isso, essas pessoas resvalam para o pensamento
cartesiano e raciocínio matemático, sempre de forma detalhista e
metódica. Apesar de competentes, têm dificuldade de perceber o todo em
um primeiro momento, são mais intransigentes e não aceitam erros.
Colocadas fora da rotina, podem se perder um pouco.
Já alguém de mente divergente apresenta um pensamento global, partindo
do todo para a parte, realizando associações pouco usuais e encontrando
soluções criativas, nem sempre com tanta correção e competência. É um
comportamento típico de pessoas desorganizadas, ansiosas e que fazem
muitas coisas ao mesmo tempo. A criatividade cobra seu preço com uma
taxa maior de erros. Por demandar mais o hemisfério direito, que não
abriga a área da linguagem, são sensíveis, intuitivas e menos lógicas,
mais transgressoras de regras e com dificuldade de cumprir rotinas.
Porém, são capazes de se adaptar facilmente a mudanças e têm melhor
poder de improvisação.
Pessoas de mente divergente: |
Apresentam um pensamento global. |
Vão do todo para a parte, realizando associações pouco usuais e encontrando soluções criativas, nem sempre com tanta correção e competência. |
Têm comportamento típico de pessoas desorganizadas, ansiosas e que fazem muitas coisas ao mesmo tempo. |
Erram mais, por serem mais criativas. |
Por demandarem mais o hemisfério direito, que não abriga a área da linguagem, são sensíveis, intuitivas e menos lógicas, mais transgressoras de regras e com dificuldade de cumprir rotinas. |
São capazes de se adaptar facilmente a mudanças e têm melhor poder de improvisação. |
Miscelânea bem-vinda
Se, mesmo lendo com toda a calma as características de um tipo e de
outro, você ainda tem dúvida a qual pertence, considere que todos nós
temos momentos de convergência e divergência. Algumas pessoas trazem uma
mistura dos dois, ou oscilam entre ambos dependendo da atividade e do
momento de vida. Mas, de uma maneira geral, há uma predileção individual
para um dos estados. “As mulheres tendem a ser mais divergentes que os
homens, assim como as crianças são seres divergentes. A escola e o
trabalho por vezes valorizam muito o lado convergente, o raciocínio de
senso comum, a obediência às regras sociais – fazendo com que indivíduos
divergentes migrem para um padrão convergente”, reflete Leandro Teles.
Para ter certeza de que lado você está, veja as dicas do neurologista:
analise sua própria vida, suas prioridades, seu dia a dia. Se prefere
ambientes controlados, organizados, faz uma coisa de cada vez, com
exatidão e rigor, tende à convergência. Caso se sinta melhor em locais
descontraídos ou mesmo bagunçados, com poucas regras, que valorizem o
pensamento criativo em detrimento da exatidão, você é mais divergente.
“Imagine a cena: um casal conversa, e você observa. Tanto o hemisfério
esquerdo quanto o direito do cérebro interpretam que o rapaz e a garota
continuarão juntos. Mas a explicação que encontram para isso é diversa.
No esquerdo, convergente, é porque são jovens, bonitos, praticamente da
mesma idade, falam olhando nos olhos um do outro e parecem felizes e
apaixonados – em um raciocínio verbal, lógico e sequencial. Já o direito
dirá que ficarão juntos ‘porque sim, estou com um pressentimento, eles
combinam e existe uma química’ – o juízo é intuitivo.”
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Todos nós temos momentos de convergência e divergência, sendo que algumas pessoas trazem uma mistura dos dois
O reconhecimento do seu lado preponderante pode ser importante em
várias situações – como, por exemplo, para escolher o ramo de atuação,
contratar alguém, preparar apresentações, se relacionar com os outros.
“Compreendendo melhor a si próprio, será mais fácil fazer escolhas
pessoais, vocacionais ou de lazer. Além disso, pode nos motivar a
desenvolver os aspectos deficitários da mente, exercitando-os para nos
tornar eficientes. A pessoa se torna completa se tem capacidade de usar
de maneira harmoniosa as funções dos dois lados, migrando de um para
outro sem esforço, dependendo da necessidade. Isso pode e deve ser
treinado.
A dica é sair da zona de conforto, fazer coisas novas, realizar as
tarefas cotidianas sob novos enfoques e perspectivas.” Para um indivíduo
convergente, por exemplo, é aconselhável desenvolver o lado artístico,
explorar a criação, buscar soluções fora da rotina, fugir do óbvio e se
permitir o erro. Vale, então, se dedicar a artes, música instrumental,
atividades que exijam criatividade e jogos como quebra-cabeça.
No caso do divergente, convém realizar tarefas seriadas e isoladas, que
exigem concentração e doação. Exemplos: leitura, cálculos e exercícios
matemáticos, jogos de tabuleiro, sudoku e palavras cruzadas.
As profissões mais recomendadas para as mentes convergentes são as que
valorizam o raciocínio linear e a rotina, como direito, engenharia,
matemática, pesquisa. Para as divergentes, as que exigem criatividade,
com tolerância para a transgressão de regras e erros eventuais, como
decoração, moda, artes de modo geral, arquitetura, marketing,
entretenimento.
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