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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Uma noiva? Um bebê? Uma água-viva? É o Hell Boy!

 23/01/2013

Veja as primeiras imagens desse peixe que lembra a descrição de um anjo caido.

Crédito: Gustavo Assad
O Hell Boy ainda jovem
As fotos que ilustram este material são as primeiras feitas de um bebê “infernal”! Quando pensamos sobre filmes de terror, horrores da imaginação, seres alienígenas, volta e meia o quem à mente é muito parecido com nosso “Hell boy”: cara grande, olhos enormes, boca descomunal e, porque não, um toque etéreo de véus, como um anjo caído...Essa descrição não é a cara de nosso “Hell boy”?
Este é o filhote de um peixe chamado Peixe-Sapo, cientificamente conhecido como Lophius gastrophysus. Em milhares de espécies de peixes ocorre o que chamamos de metamorfose, uma verdadeira transformação.. Ovos dão origem a larvas, larvas se transformam em jovens, jovens em adultos e, frequentemente, nenhuma dessas fases de crescimento se parece com a anterior ou a seguinte. Este é bem o caso de nosso “Hell boy”.
Crédito: Gustavo Assad

Outra do Hell Boy ainda filhote
A fêmea adulta expele uma massa de ovos com até 12 metros de comprimento e 1,5 de largura, que são imediatamente fertilizados pelo macho. Essa massa é semiflutuante, ficando à deriva na parte superior da coluna d´água, não chegando à superfície do mar. Nascem então as larvas que vivem na mesma região e que, aos poucos, se transformam em jovens como nosso “hell boy com 7 e 10 cm de comprimento. As nadadeiras longas, largas e transparentes, as cores e os filamentos servem de camuflagem para o peixe, pois o fazem parecer muito com uma água-viva comum na região em que foi fotografado (Arraial do Cabo, RJ). O mais curioso é que nunca havia sido visto um jovem do Peixe-Sapo antes. O que se imagina é que, depois de um tempo, o jovem vá buscando águas cada vez mais profundas até se transformar no adulto, que com quase um metro de comprimento pode pesar mais de 15 kg  e vive no fundo, geralmente entre os 50 e 600 metros de profundidade.
Crédito: Alfredo Carvalho Filho
O Hell Boy já adulto. A metamorfose é óbvia!
Um trabalho científico está sendo desenvolvido pelos pesquisadores Alfredo Carvalho Filho, Sérgio Stampar, John Caruso e Ann Everly, para fundamentar a descoberta do fotógrafo e instrutor de mergulho Gustavo Assad que flagrou o jovem “Hell Boy”, com cerca de 15 cm, nas águas rasas da Ilha dos Porcos, Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro.
Como detalhe final, o Peixe-Sapo, em todas as fases, é carnívoro por excelência e sua carne é considerada deliciosa.
Alfredo Carvalho Filho é biólogo e autor do livro “Peixes, Costa Brasileira”

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Peixe-Morcego: O Batman submarino

 11/01/2013

O animal muda a sua cor para se camuflar no fundo do mar



Cláudio (Buia) Sampaio

Andando, à noite.

Este animal bizarro, o Peixe-morcego (Ogcocephalus vespertilio) é totalmente adaptado ao seu meio. Vive sempre no fundo, seja na areia, lodo ou entre rochas e corais, entre 1 e 150 m de profundidade.
É um bicho de 30 cm e seu corpo lembra uma grande flecha bem achatada, de cabeça enorme e triangular, a boca pequena e protrátil, isto é, que pode se alongar para frente formando um tubo. Na ponta da cabeça há um chifre de osso no qual se esconde um órgão que funciona como uma “isca”: um espinho móvel com a ponta carnuda e que o morcego agita na sua frente para atrair presas. Assim, o peixinho, molusco, verme ou camarão que vem investigar vira jantar, sugado pelo tubo que é a sua boca.
Alfredo Carvalho Filho
A cara do morcego.
Isso é o chamamos de “caça” passiva, porque o morcego também pode ser muito ativo, usando seu chifre para fuçar o fundo e “aspirando” pela boca o que achar de comida. Se a fome apertar e não aparecer nada, não tem problema, ele pode se alimentar de algas. Durante o dia fica quieto e camuflado. Á noite sai para comer, seja andando pelo fundo, seja dando rápidas nadadas pela coluna d´água.
As suas brânquias são apenas uma abertura na pele, logo após as nadadeiras peitorais que são   longas e articuladas, inseridas no final da cabeça e modificadas como se fossem pernas para que nosso amigo possa realmente “andar” pelo fundo. A pele é rugosa, cheia de escamas muito diferenciadas em forma de cone, ásperas e granulosas.
O bicho ainda tem muitos "pêlos" (os cirros) por todo corpo para parecer ainda mais com o fundo. Se ele já parece muito bem disfarçado, repare na sua coloração: ela varia de pálida a cinza escura, marrom, rosa ou avermelhada no corpo todo, com muitas manchas mais escuras. Este animal parece mesmo uma pedra e como é capaz ainda de mudar de cor fica quase invisível no fundo!
Alfredo Carvalho Filho
Peixe-Morcego, 25 cm, disfarçado. Ilha Vitória, Ubatuba. 
Para ver ver um vídeo desse peixe clique aqui
Alfredo Carvalho Filho é biólogo e publicitário, autor do livro “Peixes, Costa Brasileira”. Além disso, ele possui uma coluna mensal na revista "Pesca Esportiva".

O maior artrópode terrestre do mundo

 09/01/2013

O Caranguejo-dos-coqueiros é conhecido por devorar cocos


Foto: Wikipédia

Considerado o maior artrópode terrestre
De nome científico Birgus latro, o Caranguejo-dos-coqueiros é o maior artrópode terrestre do mundo e vive nas ilhas tropicais dos oceanos Índico e Pacífico. No  início  de  sua  vida, ele esconde  o  seu  abdômen  mole  em  conchas  abandonadas  de  moluscos, já na  fase  adulta. Como não dispõe  de  conchas  de  tamanho  suficiente  para  o  seu corpo, ele  enrola  o  abdômen  embaixo  do  cefalotórax  e  passa  a  viver  no  ambiente  terrestre. Seus membros são achatados e assimétricos e ficam ao lado do abdômen.
Respira  através  de  uma  estrutura  forrada  de  tecido  úmido, que  absorve o  oxigênio  do  ar. Na  época  de  reprodução retorna  ao  mar  para se hidratar e depositar seus ovos. Deles saem pequenas larvas nadadeiras que, depois de algumas metamorfoses, tornam-se pequenos caranguejos-ermitãos (superfamília de crustáceos).
A dieta desses animais consiste praticamente em coisas de origem orgânica. Frutas como o coco e o figo são as suas prediletas, mas folhas e ovos de tartarugas também lhe atraem. Esses caranguejos são conhecidos pela sua habilidade única, entre todos os outros animais, de cortar buracos em cocos – utilizando suas poderosas garras – para depois comer a polpa.
Quanto ao seu tamanho, o maior registrado foi de 1 m de comprimento e 17 kg. Esse peso é o limite máximo para um artrópode terrestre. Em meio aquático, outros tamanhos maiores são possíveis. Normalmente não é venenoso, mas pode se tornar ao ingerir alguma planta tóxica.
Nas ilhas do Pacífico, os Caranguejos-dos-coqueiros são consumidos como alimentos e considerados uma iguaria, pois seu sabor é parecido com o das lagostas. Existem vários pratos diferentes feitos dessa espécie. Também são vistos como animais de estimação. Os habitantes de Tóquio, por exemplo, os criam dentro de gaiolas.

O inseto com o menor tempo de vida do mundo

 07/01/2013

Para a Efêmera, falta oportunidade até para se alimentar

Foto: Richard Bartz
Efêmera

Com mais de 2500 espécies,  estes animais são do tipo artrópode e pertencem a uma ordem denominadaEphemeroptera. Encontrados em diversas partes do mundo, eles são os mais antigos insetos com asas já registrados.
Seu corpo mole e alongado pode chegar a 4 cm de comprimento. Na maioria das espécies, os machos têm olhos grandes e suas patas dianteiras são longas para, na hora do acasalamento, conseguir segurar as fêmeas em pleno ar.
Seu habitat natural é a zona próxima da água doce (parada ou de curso lento).  Ninfas – forma na pré- fase adulta – costumam se esconder sobre rochas se alimentando de matéria vegetal. Vivem, em média, de algumas semanas a três anos de idade. Antes disso, mudam sua forma de 20 a 30 vezes em um período de até um ano. Normalmente  são o prato predileto de muitos peixes.
Ao atingir a fase adulta, seu tempo de vida se torna curtíssimo. Variando de 30 minutos para um dia, as efêmeras sobrevivem o suficiente para se reproduzirem e colocarem seus ovos da próxima geração. Não há oportunidade nem para se alimentarem.
Este grupo é considerado ecologicamente essencial para o seu habitat. As suas ninfas servem de alimento para outros animais, representando uma grande importância para a cadeia alimentar. 

Louva-a-deus se parece com orquídea

 06/01/2013

Essa espécie utiliza flores como camuflagem

Foto: Lucas Viatour
Louva-a-deus orquídea
Você já ouviu falar no louva-a-deus orquídea? De nome científico Hymenopus coronatus, este inseto pode ser achado nas florestas tropicais da Malásia, Indonésia e Sumatra.

Vivendo sobre as árvores da papaia, dos frangipanis e em cima das flores de orquídea, esta espécie é caracterizada pela sua coloração brilhante e bonita. Ao andar, suas patas lembram pétalas de flores.

Ao contrário da maioria dos outros animais, o sexo feminino leva uma considerável vantagem sobre o masculino. Os machos geralmente têm menos da metade do tamanho das fêmeas e a sua coloração é mais puxada para o marrom. Em contrapartida, são eles quem melhor sabem voar.

O mais exuberante sobre esses animais é exatamente o que faz jus ao seu nome. Com a incrível capacidade de camuflagem, eles se entrelaçam no meio das orquídeas, passando a impressão de que fazem parte da flor. Tudo isso porque precisam, de alguma forma, confundir os seus predadores - lagartos, lagartixas, aranhas, sapos, pássaros, roedores e morcegos.
Foto: Lucas Viatour

Louva-a-deus orquídea
Sobre a sua alimentação, eles costumam ser carnívoros. Na natureza, seu prato predileto é composto por pequenos lagartos, abelhas (sem ferrões), moscas, borboletas, mariposas ou qualquer outro inseto voador não-peçonhento. Além disso, alguns deles já foram flagrados comendo banana - talvez para obter o potássio que ela contém.

Não é só dos predadores animais que o louva-a-deus orquídea tenta fugir. Se você avistar um desses lindos bichinhos em alguma árvore ou flor, muito cuidado. Ao contrário do que parece, eles podem ser bastante agressivos se erguidos ao ar, chegando até a morder quem se atreva a pegá-los.

Falcão-peregrino: o ser vivo mais rápido do mundo

 04/01/2013

Ave pode chegar a mais de 300km/h.


Foto: Jonathan Lidbeck



































Falcão-peregrino

O falcão-peregrino (Falco peregrinus) é uma ave de rapina diurna de médio porte que pode ser encontrada em todos os continentes - exceto na Antártida. A espécie prefere habitats em zonas montanhosas ou costeiras, mas pode também ser encontrada em grandes cidades como Nova Iorque, nos EUA.
Na América do Sul, ela somente surge como espécie migratória, sem contruir ninhos na sua passagem. Como ave reprodutora, é “substituída” na América do Sul por uma espécie similar e um pouco menor, o falcão-de-peito-laranja.
O falcão-peregrino chega ao Brasil no mês de outubro com o objetivo de fugir do forte inverno da América do Norte. Ele retorna para o norte no mês de abril.
O que diferencia os falcões das demais aves de rapina é o fato de terem evoluído no sentido de uma especialização no voo em velocidade (em oposição ao voo planado das águias e ao voo acrobático dos gaviões).
Foto: Wikipédia

 
Falcão-peregrino 
A velocidade do animal é facilitada pelas asas pontiagudas e finas, favorecendo a caça em espaços abertos – daí o fato dos falcões não serem aves de ambientes florestais, preferindo montanhas e penhascos, pradarias, estepes e desertos.
É comum encontrar subespécies que ultrapassem os 300Km/h. O máximo já registrado foi de 389 km/h, sendo considerado o ser vivo mais rápido da Terra. O incrível é que a ave não passa de 1,5Kg, sendo a fêmea maior que o macho.
O falcão-peregrino é ornitófago, ou seja, se alimenta quase que exclusivamente de aves. O alimento preferido da espéicie são as pombas. Durante o período reprodutivo, o animal põe cerca de 100 ovos em um penhasco, muitas vezes sem ninho. Os ovos são incubados pelo casal de pais durante um mês. A ave pode viver até 19 anos em cativeiro.
Veja mais sobre este animal:
Conheça 7 espécies de falcões

Guarda-rios: a ave que espera a hora certa de atacar

 03/01/2013

Conta com o apurado sentido da visão para localizar a presa dentro da água.

Foto: Wikipédia
Guarda-rios
Os guarda-rios são aves de pequeno a médio porte (10 a 46 cm de comprimento), de plumagem colorida e pescoço curto, com a cabeça relativamente grande em relação ao corpo e um bico longo e robusto.
As asas são arredondadas e a sua cauda é curta na maioria das espécies. As patas são pequenas e com os dedos frontais fundidos. A plumagem é exuberante com frequência de cores azuis ou verdes.
A forma do bico varia de acordo com tipo de alimentação e com as condições ambientais, sendo achatada lateralmente nas espécies piscícolas (que se alimentam de peixes) ou dorso-ventralmente nas insetívoras.
Algumas espécies de guarda-rios que alimentam-se no solo à base de frutos têm o bico bem mais curto, pois não precisam pescar peixes. As espécies piscícolas contam com o apurado sentido de visão para localizar a presa dentro da água, que caçam através de mergulhos picados, por isto também são conhecidos como pica-peixes.
Foto: Wikipédia

Pica-peixe 
A maioria das espécies não apresenta dimorfismo sexual. Os juvenis são semelhantes aos adultos e distinguem-se pela plumagem menos colorida. Algumas espécies são aves monogâmicas que vivem em casais para o resto da vida.

Bocarra-negra alimenta-se de peixes maiores que ele

 01/01/2013

Animal consegue engolir peixes grandes devido à distensão de seu estômago.


Foto: Equipe TAMAR, Guy Marcovaldi/ Pedro Cordeiro 

Bocarra-negra
 
O mar profundo... Já imaginou o meio do mar profundo? Escuridão total, centenas de metros acima está a superfície, centenas abaixo, o fundo. No meio, o nada, onde todos os sentidos se confundem. Não há acima ou abaixo, sua orientação já era! Nessa região gigantesca, que se estende por dezenas de milhares de quilômetros, a vida é um espetáculo à parte!
Milhões e milhões de organismos de todos os tamanhos e formas, adaptados perfeitamente a viver no nada. De minúsculas lulas a enormes tubarões, a vida exibe sua diversidade indo a tais extremos que pensaríamos estar vendo alienígenas de outro universo.
Onde reina a escuridão há milhões de bichos com fotóforos, que são órgãos especiais que emitem luz, como vaga-lumes. Tal luminosidade permite disfarces e encontros, mas também podem denunciar a presença, e o predador virar presa. Daí, muitos animais são totalmente escuros, sem fotóforos, mais difíceis de serem percebidos, como é o caso do Bocarra-negra, um perfeito exemplo de adaptação.
O Bocarra-negra (Chiasmodon niger) é um peixe pequeno e alongado, marrom escuro a negro, de até 25 cm de comprimento, que vive na meia-água entre 100 e 3.300 metros de profundidade, geralmente a partir dos 750 metros. Sua distribuição é colossal, pois pode ser encontrado em todos os mares tropicais e subtropicais; no caso do Atlântico americano já foi coletado desde o sul do Canadá e das Ilhas Bermudas até o Espírito Santo, no Brasil.

Foto: Alfredo Carvalho Filho
 A protuberância no ventre é a sardinha que ele engoliu inteira 
Alimenta-se exclusivamente de peixes, mas... se a comida for maior do que ele? Não tem conversa, engole também! Sua boca se distende (veja na foto), assim como seu estômago e ventre, permitindo-lhe engolir presas de seu tamanho ou mesmo um pouco maiores, que cabem inteirinhas dentro de sua barriga! Além da boca ampla, tem duas séries de dentes curvos e afiados nos maxilares, além de outros maiores frontais, que servem para segurar bem o que abocanha. Afinal não deve ser sempre que topa com comida dando sopa no meio do nada...
A reprodução aparentemente acontece na primavera e seus ovos e larvas são planctônicos, ou seja, vivem à deriva no meio do plâncton. Com 20 a 23 mm, as larvas se transformam em juvenis de corpo claro e com manchinhas escuras no dorso e ventre. Com cerca de 8 mm sua cor já é uniformemente escura.
Alfredo Carvalho Filho é publicitário e biólogo, autor de inúmeros trabalhos científicos, artigos populares e do livro “Peixes Costa Brasileira”. Escreve todo mês sua coluna “Que Peixe é Este” para a revista "Pesca Esportiva

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Brasileiros acham mutação que "transforma" leopardo em pantera-negra

FOLHA DE S. PAULO
Ciência
01/01/2013 - 05h00
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE "CIÊNCIA+SAÚDE"


Um dos felinos mais bonitos da Terra acaba de ficar um pouco menos misterioso. Dois cientistas brasileiros, trabalhando com colegas dos EUA e da Rússia, identificaram a mutação que transforma leopardos "comuns" na célebre pantera-negra.
De quebra, os pesquisadores também flagraram a alteração genética responsável por produzir a versão negra de outro felino selvagem, o gato-dourado-asiático.
A descoberta está descrita na revista científica "PLoS ONE". Os autores brasileiros do estudo são Alexsandra Schneider e Eduardo Eizirik, ambos da PUC-RS (Eizirik também é ligado ao Instituto Pró-Carnívoros, em Atibaia, interior paulista).
Gary Whyte/Creative Commons
Pantera-negra, forma "morena" do leopardo, fotografada na África
Pantera-negra, forma "morena" do leopardo, fotografada na África
O biólogo da PUC gaúcha conhece como poucos a genética da pelagem dos felinos. Há quase dez anos, ele foi coautor do trabalho que identificou pela primeira vez as mutações que produzem versões pretas do gato doméstico, da onça-pintada e do jaguarundi (espécie que lembra uma versão miniatura da suçuarana, com a qual tem parentesco próximo).
Mas ainda havia (e há) um bocado de trabalho a fazer nessa área, já que as chamadas formas melânicas (ou seja, de pelagem preta) estão registradas para 13 espécies de felinos, sem falar em relatos não documentados sobre tigres negros, por exemplo.
"No caso dos tigres, as fotos que eu vi até hoje não mostram melanismo verdadeiro", contou Eizirik à Folha. "Está mais para variação na largura das listras."
Grosso modo, há dois jeitos principais de criar um felino negro, ambos envolvendo um receptor, ou fechadura química, conhecida como MC1R. É nessa fechadura que se encaixam as moléculas de um hormônio que estimula a produção da eumelanina, o pigmento da cor escura.
Por um lado, se o MC1R ficar hiperativo durante o desenvolvimento do animal, ele pode nascer melânico. Por outro, o receptor pode ser bloqueado por outra molécula, conhecida como ASIP, cuja ação leva à produção de um pigmento de cor clara. Se a ASIP for eliminada, portanto, o bicho também pode acabar ficando escuro.
Ora, o que o novo estudo mostrou, estudando 11 panteras-negras asiáticas, é que o DNA dos gatões tinha uma alteração de uma única "letra" química no gene que contém a receita para a produção da ASIP. Essa letrinha trocada é suficiente para atrapalhar a fabricação da proteína e inutilizá-la.
Resultado: leopardos de pelos pretos -mas só se os bichos carregarem duas cópias do gene alterado. Coisa semelhante, embora não idêntica, ocorre no caso do gato-dourado-asiático.
A questão agora é entender o papel evolutivo da mutação. Eizirik conta que, nas matas da península Malaia (que pega trechos de países como Malásia e Tailândia), as panteras-negras chegam a ser quase 100% da população de leopardos, enquanto são raras na África.
"Pode ser um resultado casual do isolamento dessa população, ou pode ser resultado da seleção natural", diz. Há quem acredite que a cor preta seja mais vantajosa em matas mais fechadas, mas isso ainda não foi confirmado.