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quarta-feira, 28 de março de 2012

Vírus criado geneticamente pode matar células cancerosas

26.03.2012

Discovery Notícias
Virus


















A última coisa de que alguém precisa é de uma infecção viral – a menos que tenha câncer.
As células cancerosas se multiplicam desordenadamente, pressionando os órgãos e causando tumores, complicações que evoluem progressivamente e podem matar. Mas tanta agressividade tem um preço: as células cancerosas não são tão eficientes no combate a infecções virais. Teoricamente, um vírus é capaz de matar apenas células cancerosas, sem causar danos ao paciente.
Um interessante artigo de Rachel Nuwer,  publicado no New York Times, descreve os esforços médicos para modificar os vírus na luta contra o câncer.
As pesquisas remontam a 1951, quando uma criança de quatro anos com leucemia contraiu catapora. O câncer entrou em remissão, mas assim que se curou da catapora, houve uma recidiva e a criança faleceu.
Ao longo da história, alguns médicos tentaram aproveitar o fenômeno em prol dos pacientes, mas tais esforços fracassaram e, na década de 1960, o foco das pesquisas voltou-se para outros tratamentos.
Entretanto, muitas coisas aconteceram desde então. A ciência médica avançou a passos largos, assim como a compreensão da genética e dos mecanismos dos vírus e do câncer. Talvez não esteja longe o dia em que vírus feitos “sob medida” serão capazes de curar algumas formas de câncer.
Robert Martuza, neurocirurgião-chefe do Hospital Geral de Massachusetts e professor de neurociência da Escola de Medicina de Harvard, começou a pesquisar o vírus herpes simplex, ou HSV-1, como um instrumento de combate ao câncer em 1991. Ele extraiu alguns genes do vírus e os injetou em ratos com câncer cerebral. Embora o câncer tenha entrado em remissão, a maioria dos ratos morreu de encefalite.
Em 1990, Bernard Roizman, virologista da Universidade de Chicago, descobriu um gene do vírus da herpes que, quando removido, impedia que o vírus passasse pelas defesas das células saudáveis, mas não das cancerosas. Isso desacelerou o crescimento das células defeituosas, mas não as matou.
Seis anos depois, Ian Mohr, virologista da Universidade de Nova York, encontrou uma forma de alterar o vírus modificado por Roizman. Sua versão conseguiu evitar o ataque do sistema imunológico e é mais eficaz no combate às células cancerosas.
VER: HUMANOS
O vírus da herpes não é o único a ser recrutado para o exército anti-câncer. O vírus da varíola bovina, que já foi utilizado na imunização contra a varíola humana, agora é testado contra algumas formas de câncer. Até o momento, os resultados são promissores, ampliando o tempo de sobrevida em um dos grupos de pacientes. Outros vírus estão sendo utilizados no combate a melanomas e ao câncer de bexiga, cérebro e pescoço.
Mas ainda não é hora de comemorar. Como mostram os testes em pacientes com câncer no fígado, aumentar a expectativa de vida não é o mesmo que curar, e cada câncer tem características diferentes. Dificilmente os pesquisadores encontrarão uma bala mágica que extermine todos eles. Gary Hayward, virologista do Programa de Pesquisa do Vírus da Herpes da Faculdade de Medicina Johns Hopkins, declarou ao New York Times que os progressos provavelmente serão gradativos – como o foram nas últimas décadas.
Ainda assim, uma nova arma é sempre bem-vinda, e mais um passo para transformar o câncer em uma doença curável.

sábado, 24 de março de 2012

Mitos e verdades sobre a ingestão de água

Saúde - Alimentação

Tire suas dúvidas sobre esse líquido essencial para o bem-estar e a saúde do corpo

Yara Achôa, iG São Paulo

Foto: Thinkstock/Getty Images Ampliar
É importante beber água mesmo sem sede, em média 2 litros ao dia
Uma pessoa seria capaz de suportar até 200 dias sem comer. Sem água, porém, a resistência é bem menor: após cerca de 36 horas o organismo começa a entrar em colapso.
Água é essencial para a saúde e o bem-estar. Mas existem dúvidas em relação às propriedades desse líquido do qual o organismo não pode prescindir. Confira alguns mitos e verdades sobre a ingestão de água.
Tomar água gelada queima calorias
VERDADE. A temperatura da água gelada é em torno de 4º C; a do corpo humano é cerca de 36º C. Então, quando você ingere o líquido gelado o corpo trabalha para aquecê-lo.
“Esse processo, chamado termogênese, gera aumento de consumo de energia, ajudando assim a promover a queima calórica”, explica a nutricionista Natália Dourado, consultora da Santo Dom Massas sem Glúten, de São Paulo. Mas daí a imaginar que água gelada é a solução para a perda de peso é exagero. Até porque a queima calórica é pequena: meio litro de água gelada consome 17 calorias.
“É pouco representativo em uma dieta de 1500 a 2000 calorias”, completa o endocrinologista e nutrólogo João César Castro Soares, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Tomar água em jejum emagrece
MITO
. “A hidratação em jejum é importante para restabelecer os níveis séricos do organismo e a eliminação de toxinas produzidas em resposta ao período sem alimentação”, diz a nutricionista Natália Dourado. Devido a isso e ao fato de que beber água provoca uma distensão gástrica, o que pode acontecer é a sensação de diminuição da fome. Com menos fome, menos comida seria ingerida. Neste caso colaboraria com a perda de peso.
Água com gás engorda igual refrigerante
MITO
. “Embora os dois líquidos contenham gás carbônico em sua composição, a diferença está no açúcar incluso nos refrigerantes”, explica Natália Dourado. O que engorda, portanto, não é o gás e sim as calorias do açúcar da bebida. O endocrinologista João César alerta ainda para o fato de o refrigerante conter grande quantidade de sal, o que também prejudica a saúde e a boa forma.
Beber água durante a refeição atrapalha digestão
MITO
. “Não existe embasamento científico para justificar essa afirmação”, diz o médico da Unifesp. Mas é claro que não se pode exagerar na ingestão. Um litro de água faria a pessoa se sentir mal e poderia prejudicar o processo digestivo.
Beber água faz bem para a pele
VERDADE
. A ingestão de água é importante para a eliminação das toxinas produzidas pelo organismo, que são expelidas pela urina ou suor. “Uma pele bem hidratada elimina estas toxinas com maior facilidade e fica com aparência mais saudável”, explica a nutricionista Natália.
É preciso beber em média 2 litros de água por dia
VERDADE
. No entanto, pode ocorrer uma pequena variação de indivíduo para indivíduo. “A média diária de ingestão de água por um adulto fica entre 1,5 a 3 litros – ou em torno de 30 a 40ml/kg de peso corporal. Vale lembrar que temos a água natural das frutas, verduras e legumes, que são de extrema importância também”, explica Natália.
Devo beber água mesmo sem ter sede
VERDADE
. Principalmente no inverno a percepção de sede diminui – o que não quer dizer que não se deva beber água. É importante manter o hábito de tomar vários copos ao longo do dia. Quando temos sede é porque nosso organismo já está sentindo a falta do líquido.
Continue lendo sobre água e hidratação:
Beber bastante água faz mesmo bem à saúde
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Guardar água por muito tempo: pode?

Cada um envelhece de um jeito





22 de março de 2012

O declínio cognitivo não é uma sentença sobre a terceira idade. A perda da agilidade mental depende da complexa interação entre genética, personalidade e ambiente.
 
© wavebreakmedia ltd / shutterstock

por Irene E. Nagel
Luísa M., de 70 anos, acabou de comprar uma televisão. Pouco antes do início de seu programa preferido, ela tenta ligar o aparelho. Confunde-se um pouco com a quantidade de botões no controle remoto, e os comandos desaparecem da tela antes que possa lê-los. Recorre ao manual de instruções, mas as informações logo desaparecem de sua mente, e ela não consegue executá-las. Faltam poucos minutos para o programa começar quando ela decide pedir ajuda à sua vizinha, Margarida R., que, apesar de três anos mais velha, compreende rapidamente as orientações do manual e liga a TV. Só então Luísa se dá conta de que tem tido lapsos de memória cada vez mais frequentes. E já não consegue fazer duas coisas ao mesmo tempo, ainda que sejam muito simples – por mais de uma vez colocou a água do café para ferver e esqueceu a panela no fogo. Acredita que seu problema seja “a idade”, mas se pergunta por que Margarida não enfrenta as mesmas dificuldades. Seu questionamento também tem intrigado cientistas. Até o início desta década, as pesquisas sobre as bases psicofisiológicas da memória de trabalho (ou de curto prazo, que é limitada e permite o armazenamento temporário de informações) e outras funções cognitivas compararam a atividade cerebral de jovens e idosos.

Os resultados retratam o desempenho médio grupal do cérebro maduro, sem considerar diferenças individuais, o que não esclarece se eventuais sinais de declínio cognitivo são realmente consequência da idade ou se as pessoas que participaram dos estudos apresentaram baixo rendimento ao longo de toda a vida. Apenas recentemente os estudos passaram a focar variáveis como genética, personalidade e qualidade de vida. E vários deles sugerem que elas são decisivas no processo de envelhecimento neural. Os procedimentos de neuroimagem, realizados por ressonância magnética funcional (IRMf), permitem distinguir quais regiões do cérebro são mais ativadas durante processos de resolução de problemas. Esse método registra as alterações que ocorrem no fluxo sanguíneo neural. Por meio delas é possível reconhecer as redes que entram em funcionamento de acordo com o tipo e o grau de dificuldade do exercício que a pessoa resolve no momento do teste. Em um estudo desenvolvido em 2009, nossa equipe de trabalho, no Instituto Max Planck, em Berlim, conseguiu relacionar, utilizando a IRMf, a capacidade de rendimento individual de pessoas na terceira idade com sinais de ativação cerebral. Em um dos experimentos, os participantes – 30 deles com 20 anos, em média, e outros 30 com mais de 60 – tiveram de solucionar exercícios que os obrigavam a utilizar a memória espacial. Os voluntários deveriam lembrar a posição de pontos que apareciam, por breves momentos, em uma tela, enquanto estavam dentro do tubo de ressonância. Em algumas ocasiões aparecia um ponto isolado; às vezes, três ou até sete pontos dispersos. Quando esses sinais desapareciam, imediatamente surgia uma cruz; logo depois, outros pontos. Os participantes deveriam reconhecer, portanto, se os pontos mostrados na última exibição estavam na mesma posição da imagem anterior.

No cérebro dos mais jovens, a imagem composta de sete pontos ativava, com maior intensidade, o lóbulo frontal do córtex e o córtex parietal posterior (área com função destinada a memórias de longo prazo). Faz sentido, já que geralmente os testes complexos exigem esforço cognitivo mais intenso. No caso de pessoas com mais de 60 anos, porém, esse ajuste de ativação não funcionou. Especialmente os mais idosos com menor rendimento apresentaram pouco aumento de ativação do cérebro durante as tarefas mais complexas; em alguns casos, essa reação diminuiu – foi constatado que o ajuste inadequado do processo de ativação das regiões cerebrais coincidia com o menor rendimento. Algo semelhante ocorre com a estabilidade momentânea do funcionamento neural, como foi demonstrado pelos psicólogos da equipe de Brian Knutsen, da Universidade Stanford, em 2010. Eles pediram que 54 adultos, entre 21 e 85 anos, escolhessem um investimento financeiro – fundo de renda fixa ou ações. Essa decisão traria lucros ou prejuízos, de acordo com probabilidades preestabelecidas. Os cientistas observaram, principalmente, como os avaliados fugiam das decisões típicas de um investidor racional, ou seja, optar por ações de risco somente quando os acontecimentos anteriores asseguravam que valia a pena. Exames de imagem comprovaram que a ativação do cérebro mostrava picos curtos de atividades nos adeptos do risco. Entre outras regiões, aumentava a recompensa do cérebro médio, sobretudo no miolo central. Em pessoas mais velhas, a variação da atividade neural nessa área foi mais ampla e apresentou maiores índices de erro. Os pesquisadores concluíram que os voluntários de maior idade tinham mais propensão a correr riscos desnecessários. A capacidade defasada da memória de trabalho e a dificuldade de avaliar as opções parecem, portanto, associadas a déficits do processamento neural. Ainda assim, alguns idosos – os que detinham maiores recursos intelectuais – obtiveram bons resultados, chegando a um padrão semelhante ao de um indivíduo jovem. Como isso é possível?

A distribuição da atividade neural depende de vários aspectos: a densidade da massa cinzenta e do córtex cerebral, as conexões das áreas cerebrais (massa branca) e a disponibilidade de neurotransmissores. Entretanto, muitas pesquisas indicam que essas características mudam com a idade, o que parece justificar as diferenças na capacidade intelectual. O momento em que os processos de envelhecimento cerebral aparecem e a velocidade com a qual avançam dependem de fatores genéticos, entre outros. Isso foi comprovado no caso da dopamina, neurotransmissor responsável por inúmeras funções cognitivas complexas. Uma enzima de nome complicado, catecoloximetiltransferase (COMT), regula a quantidade de dopamina no cérebro. Ela se encarrega de bloquear transmissores específicos para os receptores que se encontram unidos às células nervosas; isso significa que, quanto maior a quantidade de COMT, maior a inibição de dopamina. Cada gene que contém instruções para a síntese da enzima COMT tem variants (polimorfismos), podendo se expressar na forma Val (mais rápida) ou Met (mais lenta). Quando os pares cromossômicos são combinados, de cada um deles derivam quatro genótipos: existem pessoas com Met/Met, outras que misturam Val/Met ou Met/Val e as que possuem Val/Val. O primeiro grupo dispõe de maior quantidade de dopamina; assim menos neurônios se degradam em razão de menor disponibilidade de dopamina. Na prática, parece que a presença dessa substância mantém o cérebro jovem por mais tempo. Métodos modernos conseguem comprovar o genótipo de diversos grupos de pessoas e relacioná-los aos resultados de sua capacidade cognitiva. Assim aconteceu em 2008: solicitou-se que jovens e idosos resolvessem um exercício semelhante ao de memória espacial, descrito anteriormente. Foi encontrado o genótipo correspondente à enzima COMT em cada participante por meio de testes de DNA, e posteriormente comparados os valores. Os mais velhos alcançaram pontuações diferentes, dependendo da disponibilidade de dopamina identificada: quanto maior a presença da substância, melhor o rendimento. Com os jovens foi diferente. Um fator genético que apenas desempenha função relevante na juventude pode exercer influência na velhice? Na verdade, duas reações simultâneas se misturam nesse caso. Com o passar dos anos, a quantidade de dopamina no cérebro diminui. Aqueles que apresentam menor quantidade.

Com o passar do tempo, a influência genética é decisiva apenas em certa medida; escolhas e estilo de vida também são fundamentais da substância (por causa do genótipo COMT) podem mostrar, como consequência, deficits cognitivos. Não significa que a quantidade de genes varie ao longo dos anos, e sim que as diferenças genéticas ganham peso com as mudanças proporcionadas pela idade. Foram encontrados fenômenos semelhantes em outros genes que influenciam a capacidade mental. Assim, o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF, na sigla em inglês) está envolvido na aprendizagem e na formação da memória. Destaca-se aí a extraordinária dinâmica da influência genética, que parece desvendar, cada vez mais, a diferença de desempenho cognitivo com o avanço da idade.

Por outro lado, sabe-se que o estresse é um dos grandes responsáveis pelo envelhecimento crônico. Ainda assim, vale lembrar que muitas vezes aquilo que um indivíduo considera um fardo pode não ser um problema para os outros. Um fator que aumenta a propensão ao estresse é a instabilidade emocional. Segundo constatações de pesquisadores da Universidade Rush, de Chicago, pessoas com alta pontuação nesse traço de personalidade sofreram maior declínio cognitivo na velhice. Já os mais equilibrados, que se abatem menos por circunstâncias externas e conseguem manter a lucidez e o otimismo mesmo em situações difíceis, costumam ter mais chances de envelhecer com saúde. Reconhecer características individuais é importante, tanto no aspecto intellectual quanto no que diz respeito a emoções e motivação dos idosos. Entretanto, os fatores que realmente podemos controlar no caminho do amadurecimento ainda são uma incógnita. De qualquer forma, já sabemos que é possível interferir positivamente no processo de envelhecimento: um estilo de vida saudável e estimulante – que combine atividades físicas e cognitivas – é uma boa garantia para a manutenção do intelecto. O melhor de tudo é que muitos ainda descobrem que participar de aulas de dança ou fazer trabalho voluntário, por exemplo, pode ser muito divertido.

Ciência Brasileira




No curto intervalo de duas décadas, entre 1981 e 2000, o Brasil passou da 28ª para 17ª posição no ranking mundial de produção de ciência. Os dados, relativos à elaboração de artigos científicos, são do Institute for Scientific Information (ISI), entidade de reconhecido prestígio em bibliometria.

Nesta posição, o Brasil está à frente da Bélgica, Escócia e Israel, entre outros, e bem próximo da Coréia do Sul, Suíça, Suécia, Índia e Holanda.
O avanço da pesquisa científica brasileira, apesar de dificuldades históricas que ainda permanecem, resulta de iniciativas tomadas há meio século, especialmente com a constituição do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), principal agência nacional de fomento.

Nos anos 60, além da criação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), também foram implantados vários cursos de pós-graduação destinados à formação de novos pesquisadores. Desde então, novas agências estaduais de apoio à pesquisa foram instaladas e fortalecidas. E, em meados dos anos 80, a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia enfatizou a política científica e definiu áreas estratégicas para investimento e apoio.

Entre as dificuldades que ainda emperram o desenvolvimento da ciência no Brasil estão a concentração das investigações em universidades e institutos públicos, com uma contrapartida pouco significativa da iniciativa privada, além do fluxo irregular de recursos financeiros.

Os cenários mais recentes, no entanto, acenam com perspectivas promissoras em relação a estas limitações. Empresas privadas estão se dando conta de novas perspectivas de negócios envolvendo pesquisa, desenvolvimento e aplicação. Do lado dos financiamentos públicos, os fundos setoriais – percentual de recursos obtidos com atividades como exploração de petróleo e energia elétrica, entre outros – devem ampliar sensivelmente os financiamentos destinados à pesquisa científica.

Por incrível que pareça, um novo desafio do Brasil é incorporar sua grande quantidade de doutores no mercado de trabalho. Um expediente usado até agora vem sendo a concessão de bolsas de pesquisa. Mas essa é uma situação improvisada que não pode continuar. As universidade públicas dispõem de cerca de 6 mil vagas, das quais apenas 2 mil deverão ser preenchidas no curto prazo. O país precisa dessa mão-de-obra altamente qualificada. Para que ela tenha um horizonte profissional é necessária maior audácia da iniciativa privada.
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O que é uma espécie?




Ainda hoje cientistas continuam a debater essa questão. Uma melhor definição poderá alterar a lista das espécies ameaçadas
por Carl Zimmer




Se você visitar o Parque Provincial de Algonquin, em Ontário, Canadá, poderá ouvir os uivos solitários dos lobos e, com um pouco de sorte, observará ao menos de relance uma alcateia correndo, ao longe, através da floresta. Mas quando chegar em casa todo contente por ter avistado aqueles animais, qual a espécie de lobo você dirá ter encontrado? Se for tirar a dúvida com dois ou três cientistas, talvez ouça diferentes respostas. Pode até acontecer de um deles ficar em dúvida e lhe dizer que se trata dessa ou daquela espécie.

No século 18 naturalistas europeus nomearam de Canis lycaon os lobos do Canadá e do leste dos Estados Unidos, porque eles pareciam diferentes de Canis lupus, o lobo- cinzento da Europa e da Ásia. No início do século 20, naturalistas americanos decidiram que os lobos de Algonquin pertenciam, na verdade, à mesma espécie do lobo-cinzento eurasiano, ou seja, Canis lupus. Mais recentemente, entretanto, pesquisadores canadenses estudaram o DNA dos lobos e trouxeram à tona a velha questão. Eles argumentaram que os verdadeiros loboscinzentos (C. lupus) seriam apenas as populações que habitam o oeste da América do Norte. Os lobos do Parque Provincial de Algonquin, de acordo com os pesquisadores, constituiriam uma espécie diferente, que eles renomearam C. lycaon.

Outros especialistas em lobos não aceitam que haja evidências suficientes para separar C. lupus em duas espécies distintas. Os dois lados, porém, concordam que a identidade dos lobos do Parque de Algonquin ficou muito mais confusa devido ao problema do intercruzamento (hibridização). Os coiotes – outra espécie do gênero Canis – vêm se expandindo a leste e intercruzando com C. lycaon. Agora, boa parte da população de coiotes do lado leste carrega o DNA do lobo, e vice-versa. C. lycaon, entretanto, está intercruzando com lobos-cinzentos na borda oeste da área de distribuição desses animais. Assim os animais do Parque de Algonquin não estão apenas misturando o DNA de C. lycaon com o DNA de C. lupus mas, também, passando adiante o DNA do coiote.

Mesmo que C. lycaon, no passado, tenha sido considerado uma espécie, poderia recuperar esse status? Muitos pesquisadores acreditam que a melhor maneira de concebermos a espécie é vê-la como uma população cujos membros cruzam principalmente entre si, tornando aquele grupo geneticamente distinto das outras espécies. No caso dos lobos e dos coiotes fica difícil dizer exatamente onde termina uma espécie e começa a outra. “Preferimos chamá-la de Canis soup”, diz Bradley White, da Universidade de Trent, em Ontário.

Esse debate vai além da mera convenção de nomear corretamente as espécies. Os lobos do sudeste dos Estados Unidos são considerados uma espécie à parte, o chamado lobo-vermelho (Canis rufus). Muito se tem feito para salvar essa espécie da extinção, com programas de reprodução em cativeiro e projetos de reintrodução ao seu hábitat natural. Cientistas canadenses, entretanto, argumentam que o lobo-vermelho é, na verdade, apenas uma população isolada de C. lycaon do lado sul. Se for assim, então o governo não está, de fato, salvando uma espécie da extinção, já que milhares de animais pertencentes à mesma espécie, C. lycaon, ainda prosperam no Canadá.

Como ficou demonstrado, no caso dos lobos do Parque de Algonquin, definir espécie pode ser muito importante para as medidas de preservação ambiental, tanto no que diz respeito às espécies ameaçadas quanto em relação a seus hábitats. “Podemos dizer que, por um lado, trata-se de assunto esotérico, de outro, de problema prático; e, talvez, de problema legal”, avalia Alan Templeton, da Washington University em St. Louis.

Definições Complicadas
É surpreendente ver o quanto os cientistas vêm debatendo para chegar a um consenso sobre algo tão simples e decidir se esse ou aquele grupo de organismos constitui ou não uma espécie. Talvez isso se deva ao latim, que deu nomes às espécies, carregados de uma certeza absoluta, levando o público a pensar que as regras são muito simples. Ou possivelmente isso se deva a 1,8 milhão de espécies que os cientistas vêm nomeando de uns séculos para cá; ou, ainda, talvez, às leis como a Endangered Species Act (lei que estabelece as regras para as espécies ameaçadas nos Estados Unidos). Mas o que sabemos, de fato, é que o debate sobre o conceito de espécie ocorre há décadas. “Não há consenso, entre os biólogos, sobre o que vem a ser uma espécie”, admite Jonathon Marshall, biólogo da Southern Utah University. De acordo com a última estimativa existem em circulação, pelo menos, 26 conceitos publicados.
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Carl Zimmer Carl Zimmer é autor de nove livros e escreve regularmente sobre ciência na New York Times, National Geographic e Discover, onde é editor colaborador. Também é autor de um novo livro eletrônico, Brain cuttings: fifteen journeys through the mind (Ed. Scott & Nix). Um capítulo desse livro pode ser encontrado em www.ScientificAmerican.com/e-zimmer .


Motoristas do Banco Traseiro










20 de março de 2012
Bactérias que vivem em nosso corpo podem ter dado uma ajuda na evolução
por Carrie Arnold
Photo Researchers, Inc.
Somos um: biólogos dizem que micróbios intestinais comuns como os Bacteroides fragilis podem ser tão importantes quanto nossos genes.
O corpo humano abriga pelo menos dez vezes mais células de bactérias que células humanas. Conhecidas coletivamente como microbioma, essa comunidade pode desempenhar um papel importante na regulação do risco de obesidade, asma e alergias. Agora, alguns pesquisadores se perguntam se o microbioma pode ter participado em um processo ainda mais crucial: a seleção de parceiros e, em última análise, a evolução.

A melhor evidência de que o microbioma pode desempenhar esse papel crítico vem de estudos de insetos. Um experimento de 2010 liderado por Eugene Rosenberg, da Universidade de Tel Aviv, descobriu que criar a mosca-das-frutas Drosophila pseudoobscura com dietas diferentes alterou a seleção de parceiros: as moscas se acasalavam com outras da mesma dieta.
Uma dose de antibióticos aboliu essas preferências – as moscas voltaram a se acasalar sem levar em conta a dieta –, sugerindo que a alteração dos microrganismos intestinais provocada pela dieta, e não só a dieta, levou à mudança.

Para determinar se os microrganismos intestinais poderiam afetar a longevidade de um organismo e sua capacidade de reproduzir, Seth Bordenstein, geneticista da Vanderbilt University, e seus colegas administraram o antibiótico rifampicina a cupins Zootermopsis angusticollis e Reticulitermes flavipes. O estudo, publicado em julho de 2011 na Applied and Environmental Microbiology, descobriu que os cupins tratados com antibiótico mostraram uma diversidade reduzida em suas bactérias intestinais e produziram um número muito menor de ovos. Bordenstein argumenta que a redução de certos microrganismos benéficos, alguns dos quais ajudam na digestão e na absorção de nutrientes, deixou os cupins desnutridos, menos capazes de produzir ovos. Estes estudos fazem parte de um crescente consenso entre biólogos evolutivos que não se pode mais separar os genes de um organismo dos de suas bactérias simbióticas. Todos fazem parte de um único “hologenoma”.

“Houve um longo histórico de separar a microbiologia da botânica e zoologia, mas todos os animais e plantas têm milhões ou bilhões de microrganismos associados”, explica Rosenberg. “Você deve observar o hologenoma para entender um animal ou planta.” Em outras palavras, as forças da seleção natural pressionam uma planta ou animal e sua gama completa de microrganismos. Apoiando essa ideia, Bordenstein mostrou que quanto menor a distância evolutiva entre certas espécies de vespas, maiores as semelhanças em sua microflora.

Pesquisadores acreditam que o microbioma também é essencial para a evolução humana. “Dada a importância do microbioma para as adaptações humanas como a digestão, o cheiro e o sistema imunológico, parece muito provável que esse sistema tenha tido efeito sobre a especiação”, avalia Bordenstein. “Sem dúvida, a microbiota é tão importante quanto os genes.”

Cérebro humano: anatomia, funções e doenças

SAÚDE - Cérebro

O que é

Embora a maioria dos animais tenha sistema nervoso, apenas três grupos (artrópodes, cefalópodes e craniata) apresentam cérebros complexos. O órgão, matriz do sistema nervoso que está localizado dentro do crânio nos seres humanos, é o principal centro de regulação e controle das atividades corporais: sede da consciência, do pensamento, da memória e da emoção. É ele, portanto, que permite ao homem identificar, perceber e interpretar o mundo que o rodeia. É composto por massa cinzenta e massa branca, sendo dividido em dois hemisférios por intermédio do corpo caloso, compreendendo também o tronco encefálico e o cerebelo.
O córtex cerebral corresponde à camada mais externa do órgão formada por tecido rugoso de cerca de dois milímetros de espessura, sendo um importante local de processamento neural, responsável por funções complexas como memória, atenção, consciência, linguagem, percepção e pensamento. Constituída por massa cinzenta, essa estrutura permitiu ao ser humano desenvolver cultura, já que induziu a elaboração do pensamento abstrato e das representações simbólicas.
Cada hemisfério contém cinco lobos. O lobo frontal está associado à atividade motora, articulação da fala, pensamento e planejamento – responsável por cognição e memória. O lobo parietal responde pela interpretação das sensações e pela orientação do corpo. O lobo occipital interpreta a visão. Nos lobos temporais as emoções e a memória são trabalhadas, fornecendo ao indivíduo a capacidade de identificar e interpretar objetos ao recuperar informações passadas.
A base do cérebro é composta por gânglios basais, tálamo e hipotálamo, atuando na coordenação de movimentos, organização da transmissão e recepção das informações sensoriais e atividades automáticas do corpo, respectivamente. A função do tronco cerebral é regular atividades como a deglutição e a frequência cardíaca. O cerebelo, abaixo do cérebro e sobre o tronco cerebral, coordena os movimentos do corpo ao utilizar as informações enviadas pelo cérebro a respeito dos membros.

Como funciona

Dois tipos de células, a glia e o neurônio, constituem a maior parte do cérebro. A primeira tem a função de dar suporte e proteger a segunda, que carrega a informação sob a forma de pulsos elétricos.
A comunicação entre neurônios é realizada pelo envio de produtos químicos, neurotransmissores, pelas sinapses – junções especializadas por meio das quais as células do sistema nervoso mandam sinais formando circuitos biológicos.
Os nossos sentidos (visão, olfato, audição, tato e paladar) recebem informações do mundo que nos rodeia. Estas mensagens são enviadas como impulsos sensoriais primeiramente ao tálamo e depois para regiões do córtex cerebral específicas de cada sentido. Dessa maneira, o cérebro as reúne, organiza e armazena. De forma adequada, transmite impulsos nervosos que ditam o comportamento motoro e mantém as funções do corpo, como batimento cardíaco, pressão arterial, balanço hídrico e temperatura corporal.
O cérebro também produz hormônios que influenciam outros órgãos, reagindo a hormônios produzidos em outras partes do corpo também. Nos mamíferos, grande parte destas substâncias é liberada no sistema circulatório pelas glândulas pituitárias.
Enquanto o sistema nervoso dos vertebrados permite uma troca intensa de informações entre as diferentes partes do cérebro e da medula, nos vertebrados inferiores o cérebro controla principalmente o funcionamento de órgãos sensoriais.

Curiosidades

Nem todas as atividades do corpo ou animais necessitam de um cérebro: esponjas, por exemplo, são desprovidas de sistema nervoso central e mesmo assim capazes de coordenar as contrações corporais para a locomoção.
Em vertebrados, a coluna é composta de uma rede neural capaz de gerar respostas reflexas. É a integração de informações em uma sede – o cérebro –, captadas por um sistema sensorial complexo, que permite ao homem e a alguns animais ter comportamentos sofisticados.
Em 2004, cientistas norte-americanos anunciaram a identificação de um gene que pode ter tido um papel fundamental no desenvolvimento da capacidade de raciocínio em humanos. Ele seria responsável pela expansão do córtex cerebral. A descoberta explicaria o salto evolutivo no cérebro do homem em relação aos demais primatas.
Entretanto, para muitos pesquisadores, o aumento do tamanho do cérebro nos hominídeos – a modificação evolutiva mais rápida já observada – pode ser efeito de uma combinação de pressões seletivas que contribuíram para a mudança de comportamento em uma zona adaptativa inteiramente nova: a desertificação da África. Isso induziu o estabelecimento de uma alimentação mais nutritiva, novas abordagens de caça, com a utilização de armas e ferramentas, articulação da palavra para a organização de grupos e estrutura familiar, entre outros fatores.

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