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quinta-feira, 25 de julho de 2013

Cientistas implantam memórias falsas no cérebro de camundongos


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Estudo pode dar pistas sobre como humanos produzem memórias de eventos que nunca aconteceram

Os caprichos da memória humana são notórios. Um amigo insiste que estava na sua festa de quinze anos, enquanto você sabe que ele só esteve presente na de dez. Você lembra que uma amiga foi ao seu casamento, até provar que não foi convidada. Ou num caso ainda pior, uma testemunha ocular identifica incorretamente o autor de um crime terrível.















Getty Images

Camundongos tiveram falsas memórias implantadas no cérebro



As memórias falsas ou ilusórias não só são comuns como são relativamente fáceis de serem geradas em cobaias, afirmam cientistas. Porém, permanecia sendo um mistério o que acontece exatamente no cérebro quando memórias ilusórias são formadas.
Agora, cientistas do Centro Riken de circuitos genéticos neurais do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)conseguiram implantar falsas memórias no cérebro de camundongos, para identificar pistas de como estas memórias podem se formar em humanos.
Steve Ramirez, Xu Liu e outros cientistas liderados por Susumu Tonegawa ­– prêmio Nobel por seus estudos sobre imunidade – divulgaram nesta quinta-feira (25), que conseguiram fazer com que os camundongos se lembrassem de ter levado choque em um ambiente completamente diferente de onde ele foi realizado.
Para Tonegawa , a descoberta, publicada no periódico científico Science, é ainda um lembrete preventivo de como a memória pode não ser confiável em camundongo e humanos.
Embora camundongos sejam muito diferentes de pessoas, eles têm muita semelhança nos mecanismos básicos da formação da memória. “Os mecanismos básicos da formação da memória em mamíferos são evolutivamente muito antigos”, disse Edvard I. Moser, neurocientista da Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega, que não faz parte da equipe de Tonegawa. 

Neste nível de atividade cerebral, ele disse, "a diferença entre um camundongo e um ser humano é muito pequena". A parte do cérebro em que as memórias se formam é uma área do hipocampo chamada de giro dentado, que é semelhante em camundongos e seres humanos.
No estudo divulgado nesta quinta, a equipe de Tonegawa primeiro deixou os camundongos num ambiente até que eles se acostumassem e se lembrassem do local. Os pesquisadores também identificaram as células do cérebro onde estas memórias eram formadas. Os camundongos não receberam nenhum choque neste ambiente.
Um dia depois, em um ambiente diferente, os pesquisadores liberaram diversos eletrochoques nos camundongos ao mesmo tempo em que estimulavam as células cerebrais identificadas previamente e assim acionavam a memória anterior.
No terceiro dia, os animais eram reintroduzidos no primeiro ambiente. Eles congelaram de medo, um comportamento típico dos camundongos, o que indicou que eles se lembravam de terem recebido os choques no primeiro ambiente, o que nunca aconteceu.
Tonegawa afirma que, como os mecanismos de formação da memória são semelhantes em camundongos e humanos, a importância da pesquisa está "em fazer as pessoas se darem conta de como a memória humana não é confiável”.
Ele afirma também que esta falta de confiança leva a uma pergunta sobre a evolução: “Por que o nosso cérebro produz, de certa forma, memórias falsas?”. Ninguém sabe, ele afirma, porém, se questiona se as falsas memórias não têm alguma relação com a criatividade, que também permite que seres humanos vislumbrem possíveis eventos em combinação com o real e o imaginário. “Caso não tivéssemos esta habilidade, não haveria civilização”, afirma.
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