Em julho, a coluna O nome dos bichos revela os significados dos nomes de um estranho animal envolto em lendas.
O nome dos bichos - 01-07-2011
Nos
meses de julho, entre os anos de 2006 e 2008, um amigo e eu
apresentávamos um curso dirigido a produtores rurais sobre serpentes
brasileiras. Alguém sempre perguntava sobre a “serpente com asas”,
também conhecida como jaquiranaboia. Em muitas regiões, principalmente
na Amazônia, este animal é temido pelas pessoas que vivem no campo. Elas
acreditam que ele possui um veneno mortal e que resseca as árvores
onde pousa.
Tudo isso é lenda! A jaquiranaboia não tem veneno
algum, nem é perigosa. Alimenta-se da seiva de árvores, e é incapaz de
ressecá-las. Mas por que a chamam de “serpente com asas”?
A cabeça
da jaquiranaboia possui um tipo de tromba, cujo formato lembra a cabeça
de uma cobra. É por isso que tem quem ache que esse bicho é uma
serpente alada! Só que, na verdade, trata-se de um inseto do grupo das
cigarras. De serpente, a jaquiranaboia não tem nada além do nome, que em
tupi-guarani quer dizer “cigarra-cobra”, por causa do aspecto de sua
cabeça.
Outros nomes populares, como jequitiranaboia, jitiranaboia, tiramboia e tiranaboia são uma variação da palavra jaquiranaboia, e têm o mesmo significado.
Lamparina
Nos
séculos 17 e 18, alguns pesquisadores que exploravam as florestas da
América do Sul afirmaram que a jaquiranaboia era capaz de emitir luz à
noite, como uma lamparina. Essa história acabou influenciando na hora de
se batizar as primeiras espécies com nomes científicos. Quer ver só?
As jaquiranaboias pertencem ao gênero Fulgora. Este é o nome da deusa dos relâmpagos na mitologia romana, e tem origem na palavra fulgur,
que significa “relâmpago” em latim. Três espécies brasileiras possuem
nome específico que faz referência à capacidade de emitir luz à noite: Fulgora lampetis, Fulgora laternaria e Fulgora lucifera. A palavra lampetis vem do grego “aquele que possui brilho”. Já o latim é a língua de origem das palavras laternaria (que significa “aquele que ilumina com lanterna”) e lucifera
(portador da luz).Só que existe um grande “porém” nisso tudo: até hoje
ninguém mostrou uma jaquiranaboia emitindo luz! Então, parece que essa
história também é lenda.
Outras cinco espécies de jaquiranaboia ocorrem no Brasil: Fulgora castresii, Fulgora cearensis, Fulgora graciliceps, Fulgora riograndensis e Fulgora servillei.
Os nomes específicos de Fulgora cearensis e Fulgora riograndensis fazem
referência ao estado brasileiro onde foram descobertas, e em latim
significam, respectivamente, “pertencente ao Ceará” e “pertencente ao
Rio Grande do Sul”. Já os nomes Fulgora castresii e Fulgora servillei
são, homenagens a um coronel chamado Castres e ao pesquisador de
insetos Jean Guillaume Audinet-Serville, nascido na França. Por fim, o
nome específico de Fulgora graciliceps vem do latim “cabeça fina”.
Agora,
se você avistar uma jaquiranaboia, já sabe que não precisa ter medo.
Aproveite para tirar fotos e se lembrar das histórias por trás dos nomes
desse incrível inseto!
Um dos nomes populares da jaquiranaboia em inglês é peanut-headed bug, que quer dizer “bicho cabeça-de-amendoim”. Bem apropriado, não acha?
Henrique Caldeira Costa, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Viçosa, Campus Florestal
Curioso desde criança, Henrique tem um interesse especial em pesquisar a
história por trás dos nomes científicos dos animais, que partilha com a
gente na coluna O nome dos bichos
No interior do Ceará, conhecemos como tiranaboia e como diz a lenda: É um inseto perigoso.
ResponderExcluirSempre ou vi de minha mãe estes versos:
Eu sou tiranaboia,
Besouro do Piauí
Quando sento o ferrão num
Eu vejo o nêgo cair.
*
Tu não é tiranaboia
Nem besouro do Piauí
Tu é um rola bosta
Besouro mesmo daqui.
Dizia ela ser a discussão entre dois bêbados.
Gostei do Blog. Conteudo muito bom.
Meu abraço
Dalinha