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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Lagarto-de-pedra: um peixe veloz que vive imóvel

27/12/11

Animal pode consumir até 12% de seu peso corporal por dia.


Foto: Laszlo Ilyes

Lagarto-de-pedra
 
Parece bobagem falar disso: dentes rápidos e mortais. Porque, de uma ou outra maneira, há muitos peixes assim no mar. Mas este é um expert em velocidade e imobilidade: o calango ou lagarto-de-pedra (Synodus intermedius).
Eu presenciei, ao vivo e em cores, como o bicho é rápido e voraz. Estava em Cartagena, na Colômbia, e passei algumas horas mergulhando e fotografando nas Ilhas do Rosário. Em certo momento, um pequeno jaguareçá fugiu após eu levantar uma pedra, para ser imediatamente abocanhado por um lagartão que estava ao meu lado, e que eu nem percebera! Curioso, ainda que um tanto cruel com os jovens jaguareçás, repeti a cena mais três vezes, todas com o mesmo resultado. Em uma delas, consegui fotografar, ainda que mal e porcamente, o peixinho sendo abocanhado. O que mais me chamou a atenção, entretanto, foi que o lagarto passou a me acompanhar como um comportado cão de guarda, na esperança de que eu lhe oferecesse mais vítimas. Fascinado, cheguei mesmo a ver o bicho, em um trecho sombreado, rapidamente mudar de tons de cor, passando de bege para cinza com largas faixas escuras, para se parecer mais com o fundo.
Foto: Alfredo Carvalho Filho
Lagarto-de-pedra
O calango é encontrado semienterrado no fundo ou apoiado nas nadadeiras pélvicas, à espreita de presas. Come peixes e crustáceos, tem hábitos diurnos e se enterra na areia para passar a noite. Comum, vive de um a 320 metros de profundidade, podendo consumir até 12% de seu peso corporal por dia. Muda de local periodicamente, voltando a ficar sempre imóvel no fundo, alterando os tons de sua cor para melhor se confundir com o ambiente. Tem a cabeça deprimida e grande, com o focinho curto.
As nadadeiras pélvicas são grandes, com os raios internos maiores que os externos. De cor cinza a marrom, o tom do fundo é variável, geralmente com linhas amarelas horizontais sobre fundo verde. Cerca de oito manchas em forma de losango, escuras, aparecem nos flancos. Há uma mancha negra evidente no ombro, por trás da cabeça, em parte coberta pelo opérculo. O ventre é claro. Nadadeiras peitorais, dorsal, e caudal apresentam faixas alternadas pálidas e escuras. Ocorre no Atlântico Ocidental, da Carolina do Norte (EUA) a Santa Catarina. Também é chamado por traíra-do-mar e jacaré.
A sua reprodução acontece entre a primavera e o verão, os ovos e larvas sendo pelágicos. Pertence à família Synodontidae, que, no Brasil, é representada por oito espécies distribuídas em três gêneros.
Alfredo Carvalho Filho é publicitário e biólogo, autor de inúmeros trabalhos científicos, artigos populares e do livro “Peixes Costa Brasileira”. Escreve todo mês sua coluna “Que Peixe é Este” para a revista "Pesca Esportiva

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